14 de outubro de 2009

Espelho

es.pe.lho
(s. m.) 1.Objeto de vidro ou de metal polido que reproduz nitidamente as imagens que o defrontam. 2. Qualquer superfície lisa, que reflete a imagem dos objetos. 3. Fig. O que revela ou reproduz. 4. Coisa digna de se imitar; exemplo, modelo.

o que o espelho espelha?
o que o espelhado espalha?

Acredito que a maioria se olhe no espelho diariamente. Mas não tenho certeza se todo mundo vê algo de fato. Eu mesma raramente me vejo. E quando acontece, me surpreendo.
O espelho, para um tolo, reflete só a superfície que qualquer desconhecido veria ao olhar você. Porém quando olhamos nosso próprio reflexo vemos na pele as consequencias das nossas escolhas. Cada espinha ou gordurinha, um excesso de guloseima. Cada fio branco, uma vida que passa que podemos estar ou não aproveitando. Cada olheira um problema que não nos deixou dormir.
Gostemos ou não, só a gente sabe o que vive. Só a gente sabe o que dá vida aquilo que o espelho nos devolve.

Passo dias sem me ver no espelho. Olhando apenas para ver se ainda tem pasta de dente no canto da boca.
Medo de ver o que o espelho espelha?

As vezes me vejo no espelho e sinto saudades de mim ou tristeza por mim. Saudades do que eu era e tristeza do que eu poderia ser. Mas o espelho é justo e cruel. Mostra apenas a realidade.
Posso, as vezes, mudar o visual, por um sorriso no rosto, e parecer diferente. Mas é uma farsa. Aquele que não me conhece (e até mesmo os que me conhecem) me olham e vêem o que querem ver. O que eu quero que vejam.
Mas o meu reflexo só eu vejo.
O espelho sabe o que eu espelho. Eu sei o que espalho.

24 de agosto de 2009

felicidade

fe.li.ci.da.de

sf (lat felicitate) 1 Estado de quem é feliz. 2 Ventura. 3 Bem-estar, contentamento. 4 Bom resultado, bom êxito.

O que é felicidade? Será que preciso saber o que é para poder ser feliz?
Afinal é estranho ser algo sem ao menos saber o que é.
Por outro lado não sei definir felicidade e me considero, (claro que não sempre) feliz.

Felicidade é rir à toa. Sorrir para desconhecidos. É querer abraçar todo mundo para dividir a própria alegria. Estar cercado de amigos.

Felicidade é estar tranquilo. Sorrir sem ser sorriso forçado e educado. É querer curtir você mesmo. Estar sozinho por escolha.

Felicidade é o que te agrada ser. Felicidade é estado de graça.
É quando se está feliz.

Porém prefiro não estar feliz. Estar dá a impressão que as vezes estou e as vezes não. Quero ser feliz o tempo todo. Quero então ser, e não estar.

Entretanto se eu fosse sempre feliz, como poderia achar isso felicidade? Só é feliz quem já conheceu a infelicidade. Quem tem com que comparar. Só é feliz quem já esteve infeliz.

Só espero, desejo e anseio estar a maior parte do tempo feliz.

18 de agosto de 2009

olhos

o.lho
1. Cada um dos dois órgãos da visão. 2. Abertura em forma de olho. 3. Furo. 4. Vão ou abertura nos pilares das pontes entre arco e arco.

Dizem que os olhos são as janelas da alma.
Olho nos olhos das pessoas anônimas, não vejo a cor, nem o formato. Procuro o brilho e a esperança. Me entristeço quando não encontro.
Vejo olhos vazios e cansados. Sinto em meus ombros o peso do mundo. O peso das mãos atadas.
Por que não encontro o brilho nos olhos daquele senhor? O que posso fazer para faze-los brilhar?
Acredito que todos nascem com os olhos gigantes, cheios de expectativas e vontade de viver. Em que momento se perde? Para onde vai a alma?
As janelas se fecham, ainda com os olhos abertos. E fechamos os olhos para o que acontece ao nosso redor.
Tenho medo de perder minhas esperanças.
Tenho medo de fechar minhas janelas.

Mas as vezes tenho medo de abri-las, e encarar o mundo lá fora.
E se minha alma não aguentar a verdade?
E se ela se perder?

Olhos cansados de se entristecer.

14 de julho de 2009

Relacionamento

re.la.ci.o.na.men.to

sm (relacionar+mento2) Ação ou efeito de relacionar; relacionação.

Para que um relacionamento dê certo não existe fórmula. Claro que alguns pré-requisitos são aceitos de bom grado, como paciência, cumplicidade, confiança e sinceridade. Porém não existe nenhuma regra ou sinal de que o relacionamento dará certo.

Ele pode começar mal e depois acontecer o Felizes Para Sempre. Ele pode começar num mar de rosas e terminar drasticamente. Para mim o pior é quando ele é perfeito mas, mesmo assim, acaba.

Relacionamento

Re: me dá a ideia de ida e volta de repartalhar. Dividir com que mantemos o laço

lacio: me passa a ideia de laço. Não vou dizer que é latim, grego ou qualquer coisa do gênero. É só uma crença minha. O relacionamento tem que ter isso. O laço que nos envolve. Que envolve só aqueles que vivem o relacionamento e mais ninguém. Que torna o outro diferente dos demais. Único e especial.

mento: sentimento. Crescimento.

Sempre acreditei que 0 relacionamento era uma forma de crescer junto. De se descobrir sem deixar de ser você. De se encontrar no outro. De ter o melhor de você desperto.

Hoje me sinto perdida, ruim e sem saber ao certo quem sou.


29 de junho de 2009

pobreza

po.bre.za


sf (pobre+eza) 1 Estado ou qualidade de pobre. 2 Estreiteza de posses, de haveres; falta de recursos, escassez. 3 Sociol Situação em que o nível de vida do indivíduo ou da família se acha abaixo do nível médio da comunidade tomada como referência. 4 Indigência, miséria, penúria.


Não entendo a pobreza. Acredito que ninguém entenda, inclusive o pobre. Principalmente porque não é pobre só aquele que não tem dinheiro.

A pobreza é invisível. E pobre é, também, aquele que não a vê. Passa pela rua e não vê ninguém pedindo ajuda. Ou até vê, mas abaixa a cabeça e em poucos segundos esquece do que viu.

O pobre entende mais de dinheiro que o economista, pois é aquele que menos tem que sabe fazê-lo durar mais. Pobre é, também, aquele que não entende o valor do que tem.



Hoje vi uma senhora vendendo chocolate na saída da estação de metrô. Estava de pé, visível. Mas ninguém a via. Eu, não a vi quando saí da estação. Só reparei porque esperava alguém por lá. Ela não chamava as pessoas para comprarem chocolate. Estava só parada, com olhar distante e uma caixa na frente. Quanto aqueles olhos cansados já haviam visto naquela vida. Ela deveria ter pelo menos o triplo da minha idade. E um olhar vazio. E com aquele olhar me senti vazia. Me senti pobre. Pobre de espírito.


Quem então não é pobre, de um jeito ou de outro?

22 de junho de 2009

Insônia

in.sô.nia

sf (lat insomnia) 1 Falta de sono. 2 Dificuldade de dormir; vigília; anipnia. Var: insonolência.

A insônia para mim é um paradoxo. Você se sente terrivelmente cansado, por não dormir. E terrivelmente desperto, para dormir.

É durante minha insônia que tenho meus maiores e, talvez, melhores devaneios. Infelizmente como estou deitada no escuro torcendo para dormir eles morrem antes de virarem palavras e frases concretas. E, claro, se não escrevemos logo nosso devaneio, ele se perde e se funde à pensamentos ainda não pensados.

Talvez se desistisse dessa coisa tola e desnecessária que é dormir já houvesse escritos livros fantásticos. Claro que também teria muito mais olheiras do que tenho agora. Isso é uma questão de escolha.

Como sempre me disseram que devo dormir 8h por dia, insisto na tentativa. Mas a cada noite parece haver uma nova batalha em minha cama.

A insônia não é simplesmente a falta de sono. Afinal sono é o que não me falta. Porém é na insônia que temos nossos maiores medos, anseios e conflitos interiores. Nascem aqueles pensamentos que não podem ser divididos com mais ninguém. Pensamentos tão assustadores que te impedem de dormir.

Sono, decididamente é o que não me falta. O problema é o que sobra.

Sobra imaginação.

16 de junho de 2009

Ser

s. m. 1. Aquilo que é, que existe, ente. 2. O ente humano. 3. Existência, vida. 4. O organismo, a pessoa física e moral. 5. Forma, figura.

Eu creio que sou. Acredito que todos sejam. O problema é o que.

Tem gente que diz que é mais fácil dizer o que não é. Isso, entretanto não define o que se é. Afinal é possível ser tantas coisas que o processo de eliminação é eterno.
Não gosto quando confundem o ser com o ter. Ou o ser com o estar. Você é rico ou simplesmente tem dinheiro? Você é feliz de fato ou só está feliz agora?
Não sei se situações efêmeras podem ser ditas como ser. É o que se é, o que sempre será e foi.
A gente muda. claro. Mas mudamos a partir de algum ponto, do que éramos. O que fomos nunca vai deixar de ser o que foi na época. Então evoluímos ou regredimos, mas nunca deixamos de ser.

Somos
És
Sou

o quê?

O que sou afinal?
Só saber que sou não me faz ser.
Porém sou. E, definitivamente, hoje não sei o quê.

8 de junho de 2009

Lar

lar
sm (lat lare) 1 Lugar na cozinha em que se acende o fogo; lareira; fogão. 2 Superfície do forno onde se põe o pão para cozer. 3 Face inferior do pão, que fica assente sobre a superfície do forno. 4 Torrão natal; pátria. 5 Casa de habitação. 6 Família. sm pl Nome dos deuses familiares e protetores do lar doméstico, entre os romanos e etruscos. L. doméstico: a casa da família.

Lar, ao meu ver, é onde, ao abrir a porta, tiramos nossos sapatos e máscaras.
Dentro do lar podemos ficar a vontade, física e emocionalmente. Não temos que fingir termos o controle da situação ou sermos competentes. Não precisamos ser elegantes ou usar maquiagem. No lar você é respeitado mesmo de pijama de flanela.

No lar está todo o meu mundo. Ou pelo menos a parte que mais importa. Estão minhas pilastras e minhas certezas. Minhas lembranças e minha história.
O lar não é necessariamente o local onde residimos. Pode ser o lugar onde nos encontramos. A casa de um amigo. A casa da .


Hoje estou com a forte sensação de perda de lar. Sei que as lembranças não podem ser arrancadas de mim. Mas sinto a dor de perda.
Perda do cheiro de bolo no forno pela casa. De acordar com risadas escandalosas vindas da cozinha. Do som do cachorro no quintal. De fechar as janelas as 18h para não entrar pernilongos. De voltar a noite e ver a luz da garagem acesa. Da chuva pela janela, molhando o jardim. Do sofá com o braço gasto. Do órgão com as teclas falhas. Dos cristais que nunca encostei. Do tapete que tanto pisei. Sinto a dor da perda.

O lar está dentro de mim. E temo perdê-lo aos poucos. De não lembrar dos quadros das paredes. Do sabor das balas escondidas no armário.
Por mim o manteria sempre lá, guardando minhas lembranças. Zelando minha saudade.

Mas o rio tem o seu fluxo. E o que era meu lar deve se tornar o lar de outro. E lá outro criar sua história. São ciclos que se fecham e ciclos que se abrem.

Espero que cuidem bem do meu velho lar.

30 de maio de 2009

Ciúme

ci.ú.me

sm (lat vulg *zelumen) 1 Inquietação mental causada por suspeita ou receio de rivalidade no amor ou em outra aspiração. 2 Vigilância ansiosa ou suspeitosa nascida dessa inquietação. 3 Ressentimento invejoso contra um rival ou suposto rival mais eficiente ou mais bem-sucedido, ou contra o possessor de uma vantagem material ou intelectual cobiçada. 4 Bot Arbusto asclepiadáceo, denominado também capulo-de-seda, flor-de-seda, bombardeira (Calotropis procera). 5 Bot Arbusto asclepiadáceo (Calotropis gigantea).

Eu sinto ciúmes. Acredito que você também sinta. Como também acredito que ciúmes possui diversos graus. Diversos tipos. Diversos motivos.

Creio que o ciúme é justificável, mas não tem razão. Se houvesse razão para a desconfiança então é uma suspeita. Normalmente ciúme é exatamente o que é: ciúme.

Não concordo que sou ciumenta. Sentir e ser são coisas diferentes. Se sinto, significa que as vezes ocorre. Se sou, é uma característica intrínseca e irremediável.

Tem gente que acha que quem ama sente ciúmes. Tem gente que não suporta ciúmes. Tem aqueles que fingem não sentir, mas se remoem antes de dormir. E tem aqueles que demonstram para quem quiser ou não saber.

Ciúme.
Eu sinto ciúmes. Sinto ciúmes de namorado, de amigo e até de cachorro. E sentem ciúmes de mim (inclusive o cachorro).

Podem dizer que não é um sentimento bom.
O ciúme vem acompanhado as vezes de ressentimento, de raiva, de inveja ou de medo. O objeto de ciúme se sente valorizado. Ou então invadido. Mas sente também. Acho improvável que seja indiferente.

O ciúme insita a imaginação. Diversos pensamentos nascem, principalmente com "Será" e "Por que" no início. Quando o ciúme passa, normalmente vem o "Ë que pensei que..."


O cíume, por mais infudado que seja, é natural. Faz parte.
Claro que com moderação. Mas afinal, tudo na vida não requer uma certa dose de moderação?

Então, sintamos nossa dose de ciúmes.

24 de maio de 2009

Saudade

sau.da.de
sf (lat solitate)
1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que nos vemos privados. 2. Pesar, mágoa que essa privação nos causa. 3. Bot. Suspiro (planta dipsacácea). 4. Nome dado no Brasil a várias plantas.

Uma vez, na aula de gramática do colégio, o professor disse que saudade era típico do brasileiro, pois não existe em mais nenhuma língua tal palavra.
O sentimento, espero, existe para todos.

Uma coisa é sentir falta, que é o que existe em todas as línguas. Mas outra é a saudade. Posso sentir falta de cheiro de bolo no forno ou das férias na praia com minha mãe na época que ainda usava maio extravagante com babados. Mas saudade não. Saudade é mais além. Saudade é algo que não dá para sentir quando alguém descreve. Saudade só entende quem sente.

Tenho sensações antagônicas quando sinto saudades de alguém.

Saudade para mim é ora suspiro ora lágrima.
Tenho recordações que me fazem dar um sonoro suspiro e quando abro os olhos sou capaz de sentir as sensações da época. Na pele. No coração.
Tenho recordações que de tão boas as lágrimas atropelam o suspiro e fazem doer. No coração. Na alma.
Um dos meus maiores medos é perder as recordações com o tempo. Medo que minha memória se distraia e perca o que me sobrou de pessoas que já partiram.

A saudade, as vezes, pode ser mais profunda que qualquer outro sentimento.
Pode tanto nos reconfortar como nos rasgar.
Nos preencher ou nos jogar no vazio.
A saudade é ora luz ora escuridão.

Tem gente que acredita que poderia morrer por causa do amor. Acho que eu morreria de saudade.
Provavelmente não literalmente, mas partes de mim, pouco a pouco.

Hoje meu coração está repleto de saudade, mas firme e inteiro por um fio.
Um fio de esperança de nunca esquecer quem realmente importa.

Hoje meu coração suspira e chora.

21 de maio de 2009

Tempo

tem.po
1. Série ininterrupta e eterna de instantes. 2. Medida arbitrária da duração das coisas. 3. Época determinada. 4. Prazo, demora. 5. Estação, quadra própria. 6. Época (relativamente a certas circunstâncias da vida, ao estado das coisas, aos costumes, às opiniões). 7. Estado da atmosfera. 8. Por ext. Temporal, tormenta. 9. Duração do serviço militar, judicial, docente, etc. 10. A época determinada em que se realizou um facto ou existiu uma personagem. 11. Vagar, ocasião, oportunidade.

Assim como estamos presos à necessidades básicas, como comida, ar e água, estamos presos ao tempo. Me pergunto se sempre foi assim. Me pergunto se para todos é do mesmo modo, a mesma prisão.

Estamos tão presos ao tempo que não percebemos o tanto que ele nos rouba. Achamos normal o trânsito. Podemos até reclamar, mas continuamos nele, dia após dia.
Cumprimos horários e cronogramas. Muitas vezes determinados pelos outros, e nem reparamos nos horários que nós mesmos deveríamos seguir.
Quantas pessoas dormem diariamente sem despertador? Se deixam acordar naturalmente, quando o corpo se julga descansado o suficiente para um novo dia.
Quantos veem o relógio como peça fundamental do vestuário? Que são capazes de esquecer de por o sapato, mas jamais do relógio.
Estamos presos no tempo. Você tem que cumprir oito horas de serviço. Você só pode almoçar durante uma hora. Você obedece. Você é.
Alguém, há muito tempo, definiu os anos, os dias, as horas, os minutos e os segundos. Mas não definiu o instante. Ainda bem. Tem coisas que o tempo não dita a regra. A hora certa é simplesmente a hora que acontece. Como o Amor.
Acredito que quanto mais instante vivemos, mais plenos nós somos.
Se o relógio nos escraviza é o momento de guardá-lo no criado-mudo. Experimentar caminhos novos. Dormir quando sentir os olhos pesados. Aproveitar as flores na primavera e o cachecol no inverno.
Pensar em tempo só quando olhar para cima e decidir levar o guarda-chuva. Ou então, deixá-l0 em casa, e viver o tempo que for.

16 de maio de 2009

Amigo

amizade
s. f. 1. Afeição recíproca entre dois entes. 2. Boas relações.

Várias citações me veem a cabeça quando penso em amigo. Lembro-me da música "amigo é coisa para se guardar, do lado esquerdo do peito". Lembro-me das palavras de Vinicius de Moraes: "Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos". Ambas citações vão além da definição do dicionário. Mas as duas também generalizam.

Cada amigo é um amigo. Tem amigo de infância e amigo daquelas férias de verão. Tem a turma da balada e a galera que chama sua mãe de tia. Tem amigos e amigos.

Ou não.

Amigo não depende da situação e amigo não se define pelo tempo. Amigo é isso: amigo. Assim como mãe, no fim das contas, é mãe. Independente de como seja a sua. A palavra amigo deveria bastar, se justificar por si só. Não há dúvidas, é entrega, confiança e cumplicidade.

Ou não.

A confiança não vem do nada. Os mais brandos diriam que é inocência confiar em quem não se conhece. Os mais duros diriam que é tolice. Eu digo que é um risco. Tem gente que vê amigos como a família que escolhe. Mas não sei se é possível comparar a relação familiar com aquela tida com amigos. Ou então, comparar o amor.

Ou não.

Tem amigo que se reconhece. Há uma identificação, um complementar. Parece que tem gente que nasceu para ser nosso amigo.

Ou não.

Podemos conhecer a pessoa por anos e aos poucos, e quando digo isso é bem aos poucos mesmo, se torna um amigo.

Ou não.

Tem amigo que era o melhor amigo um dia. Mas o caminho comum se dividiu em dois, e o melhor amigo se tornou um bom amigo. Que se tornou um conhecido. E então uma lembrança.

Ou não.

Tem gente que acredita que amigos verdadeiros fazemos poucos na vida. Não há o melhor amigo e um bom amigo. Há O amigo. E só ele.

Ou não.

Amigo.
As vezes me sinto cheia de amigos, as vezes sem nenhum.
Na maior parte das vezes me sinto satisfeita com a amizade.

Satisfação, riso, confiança e ternura.
Uma boa receita.

9 de maio de 2009

chuva 2

chu.va

s. f.
1. Água que cai das nuvens. 2. Fig. Abundância (do que sobrevém). 3. Fitas ou glóbulos de fogo-de-artifício que soltam os foguetes. 4. Bras. Bebedeira. 5. Chave falsa, gazua. 6. Poste telegráfico.

Como já disse, a chuva traz devaneios.
E dessa vez foram para o Dudu, porém ele deixou que eu os compartilhasse:

"A chuva para mim é um milagre. Um presente. A chuva faz as flores do jardim abrirem para mamãe sorrir. A chuva faz a vida viver.
Não sei o que faz a chuva acontecer. Talvez seja o céu chorando. Talvez seja o Papai nos regando. Talvez a chance da gente florescer.

Me pergunto se em meio as lágrimas que veem do céu não está misturada a saudade daqueles que agora moram por lá. Me pergunto se as lágrimas dos que aqui sentem saudade também encontram uma forma de chegar por lá.

A chuva para mim também é sinônimo de saudade."


(Dudu)

6 de maio de 2009

A grande Arte

ar.te
s. f. 1. Preceitos para fazer ou dizer como é devido. 2. Livro de tais preceitos.
3. Fig. Modo; artifício. 4. Habilidade. 5. Manha, astúcia. 6. Técn. Aparelho de pesca. 7. Ofício.

Sem dúvida o dicionário dessa vez me surpreendeu. Não que eu saiba definir a arte, mas decididamente nenhuma dessas definições me ocorreu.
Não sei o que é Amor e política, mas mesmo assim me arrisquei a parecer tola. Por que não mais uma vez?

A arte me domina, mesmo quando tento dominá-la. E me fascina, de modos que antes eu nem sabia existir. A arte desperta sentimentos e sentidos, sendo capaz de me tirar da minha linha reta.
Não consigo imaginar um ser humano indiferente a arte, que não goste de música. Pode não cantar junto, nem ter a vista embaçada por lágrimas, mas o pezinho debaixo da mesa há de encontrar o ritmo. Nem posso dizer que aquele indiferente a arte é um vegetal! Hoje existem tantos estudos mostrando como o crescimento de plantas é diferente dependendo da música que toca no ambiente!

Comecei pela música por ela ser a mais abrangente. Infelizmente não são todos que compartilham comigo o prazer de uma peça ou de um livro. Infelizmente não são todos que tem a oportunidade para tal. Mas confesso me surpreender daqueles que poderiam mas não compartilham.

A arte me envolve de inúmeras maneiras. Está presente a cada gota de suor que me escorre durante a dança.
E, para mim, a dança é a forma mais fascinante de arte. Pois a dança não é uma arte externalizada do artista, como um quadro ou um livro. Obviamente é muito mais fácil de eternizar algo material. Porém ao terminar esses tipos de obra, elas não mais pertencem ao artista. O elo já foi cortado. Estão terminados e sozinhos diante do mundo.
A dança não.
A dança é a arte de cada pedaço do artista. O bailarino é a própria arte. Não são preciso palavras para transmitir o sentimento. A música é um pequeno instrumento. A magia está no movimento. Ali. Real. Não há borracha e nem massa branca para passar por cima caso haja um erro.
É uma arte que nasce,amadurece e perece com o artista. É efêmera, e por isso é ainda mais especial. Não dá para guardar para depois. Tem que ser agora.

Não sei o que Shakespeare sentia ao escrever Hamlet. Ou Van Gogh com seus Girassóis.
Só o que eu sinto ao apreciá-los, de forma egoísta e solitária.
A dança não.
É compartilhada entre bailarino e espectador. Pode não ser o mesmo sentimento, mas é real. É presente. É agora.

A dança como todas as outras artes evolui ao passar dos tempos. Estende o limite para o que antes parecia impossível ou impensável. O limite do corpo não parece ser um obstáculo quando se tem uma mente fértil.

É admirável.
É envolvente.
É a Arte.

28 de abril de 2009

Acaso

a.ca.so
sm (a+caso) 1 Acontecimento incerto ou imprevisível; sucesso imprevisto, casualidade, eventualidade. 2 Caso fortuito. 3 Destino, fortuna, sorte.

Não sei se acredito no acaso. Alguns acontecimentos são inexplicáveis demais para não serem e outros são certeiros demais para serem.

O acaso gera problemas ao meu ver. O primeiro é que podemos transferir uma culpa nossa no acaso. Não aconteceu por minha causa, não fiz nada de mais! Foi o acaso! Ou então podemos não nos dar valor. Achar que não foram nossas decisões acertadas que nos levaram a tal ponto, mas o acaso! Que sorte! Não fiz nada para merecer isso!

Também ocorre o fato de não refletirmos sobre um acontecimento, pois ao falar que foi o acaso, está respondido. É como falar que certas coisas são assim como são porque Deus quis.

Porém há encontros que por mais que tentemos encontrar o por quê... simplesmente não há. Como explicar que no meio de tantas pessoas no mundo você encontra o seu verdadeiro amor? Ou então sua amiga-irmã?
As vezes ao andar na rua me pergunto se não posso provocar o acaso. Cada pessoa é uma alguém importante em potencial. Cada desconhecido é a chance de um bom amigo. De um louco amor. Mas falta o acaso que nos uniria.
O tempo não precisa mudar de repente para se puxar assunto no elevador. É só por nas mãos do destino e falar o que lhe vier, ao acaso, na cabeça.

Como explicar?
Como não explicar?

Cada caso é um (a)caso a se pensar.

20 de abril de 2009

Política

po.lí.ti.ca
sf (gr politiké) 1 Arte ou ciência de governar. 2 Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. 3 Prática ou profissão de conduzir negócios políticos. 4 Conjunto dos princípios ou opiniões políticas. 5 Astúcia, maquiavelismo. 6 Cerimônia, cortesia, urbanidade. (...)

As vezes me pergunto o que diabos é política (ou que negócio do diabo é essa tal de política).
Sim, eu estudo política mas não sei dizer o que ela é. Não, pelo menos, de forma clara, objetiva e, principalmente, breve.

Poderia citar diversos nomes importantes da política e por frases interessantes dos mesmos. Mas isso não diria o que eu vejo como política.
Tanto faz o que os outros acham da política, e principalmente, que Deus ou o Diabo me perdoem, aqueles que já partiram dessa para uma melhor.

Talvez seja, inclusive, uma perda de tempo tentar definir a política, já que tantos fizeram e nada mudou no curso da história. Enfim, falar de política é fácil, difícil é mudá-la.

Como esse blog não vai mudá-la, vou então só me distrair falando dela.
É política o horário eleitoral e é política abaixar o som depois das 22 horas.
É política votar consciente e não conscientemente.
É política ouvir a discussão entre os filhos. (Haja diplomacia!)

Diplomacia, aliás, está intrínseca na política. A malandragem, espero, que não.

Não acredito num mundo sem política. Ela é tão elementar quanto o ar. Tampouco acredito na sua importância. Afinal, quantos se importam?
Se não se importam, não há importância. Por mais importante que seja. (Que paradoxo!)

Talvez política, afinal, seja isso: um paradoxo.
Provavelmente não. Mas talvez sim.
Prefiro concluir que discutir política é que nem discutir religião e futebol. Não existe consenso e todo mundo é parcial.

Quem sabe um dia eu fale sobre Deus?
Bom, acho melhor não.

16 de abril de 2009

última que morre

esperança
es.pe.ran.ça
sf (de esperar) 1 Ato de esperar. 2 Expectativa na aquisição de um bem que se deseja. 3 Aquilo que se espera, desejando. 4 A segunda das três virtudes teologais, simbolizada por uma âncora ou pela cor verde. 5 Entom Nome comum a vários gafanhotos, da família dos Tetigonídeos, os quais possuem asas anteriores verdes, antenas setáceas, geralmente muito mais longas que o corpo. Apresentam o fenômeno do mimetismo. Antôn (acepção 1): desespero. E. em verde: esperanças de realização duvidosa.

Todo mundo já ouviu o ditado "a esperança é a última que morre". Todo mundo já fingiu que riu da piada "esperança é que nem sogra".
Mas eu acredito que a esperança se perde muito antes de várias coisas. Na realidade desconfio que na maioria das vezes só criança, torcedor fanático em copa do mundo e tolos possuem esperança.
O esperançoso está terrivelmente fadado a decepção. Por mais que a pessoa diga "tenho fé de que vai dar certo", ela sempre se prepara para o pior.

Não concordo com meu companheiro Michaelis. Esperança não é antônimo de desespero. Para mim é mais o contrário de aceitação. Quantos são aqueles que não têm mais perspectiva de melhora e simplesmente se conformam? Vivem como os alcóolatras: um dia de cada vez. Sobrevivendo.

Os sonhos ficaram, quase totalmente, para as crianças. E para os tolos.
Talvez por isso tenha começado um blog paralelo, escrito por uma criança.

As vezes sou melancólica demais. As vezes tenho asas nos pés.
Sou dona de uma esperança desconfiada, e a certeza de que minha sogra não vai morrer por último.

7 de abril de 2009

Zilhão

Zi.lhão
(palavra não encontrada no dicionário)

As vezes tenho zilhões de idéias de textos, o que me faz escrever nenhum.
Tem vezes que tenho zilhões de sentimentos, o que me faz ficar sozinha.
O pior é quando tenho zilhões de coisas para dizer, e prefiro ficar em silêncio.

Porém entre zilhões de coisas a pensar, sentir e dizer, uma particularmente me surpreendeu. O zilhão não existe. Não, pelo menos, nos três dicionários que eu consultei. E como a estatística me ensinou a tirar conclusões a base de amostras...
Não, o zilhão não existe.

O motivo que leva a todos entenderem o significado do zilhão é um mistério para mim.
Poderia agora dar um zilhão de exemplos de que sou de fato compreendida, mas creio que essa frase já diz por si só.

Poderia, então, começar a usar o termo imensidão.
Mas imensidão é mar e amor de mãe. Imensidão não combina com problemas.
Poderia usar o termo vários, mas isso não expressa a imensidão do zilhão.

Zilhão é imenso. E imensidão é poético.
Zilhão não existe, assim como a poesia descreve o inexistente e sentível.

Sentível existe?
Deixo a resposta para Guimarães Rosa.

29 de março de 2009

chuva

chu.va
sf (lat pluvia) 1 Meteor Vapor d'água, condensada na atmosfera, que se precipita sobre a terra em forma de gotas. 2 Água que cai das nuvens. 3 Tudo que cai do ar em abundância: Chuva de cinzas. 4 Abundância, ocorrência simultânea e sucessiva de muitas coisas: Chuva de pedidos. 5 Bebedeira, embriaguez. sm gír Indivíduo que se embriaga com freqüência. C.-criadeira, Reg (Nordeste): chuva miúda e contínua. C.-de-caju ou c.-de-rama: chuvas que, no Norte do Brasil, caem em setembro e outubro e favorecem a maturescência dos cajus. C.-de-ouro, Bot: a) planta orquidácea (Oncidium flexuosum), também chamada de canafístula-verdadeira; b) planta ornamental, da família das Leguminosas, subfamília das Papilionáceas (Laburnum vulgare ou Cytisus laburnum). C. de pedra, Meteor: precipitação de granizo; saraiva, saraivada, granizada. C.-dos-imbus: o mesmo que camboeira. Estar na chuva: estar embriagado.

Sempre que chove imagino o que outras pessoas, conhecidas ou não, estão fazendo.
Sempre que chove me imagino em outro lugar, com inveja daqueles que possívelmente lá estão.

Tem vezes que estou na rua, e fico me imaginando em casa, no seco, agasalhada. Talvez embaixo das cobertas vendo um filme, ou então tirando aquela soneca negligente de meio de tarde.
Tem vezes que estou dentro de casa, me sentindo presa. E fico me imaginando na rua, livre, de braços abertos, recebendo infinitas gotas em meu rosto risonho.
Tenho a impressão que a chuva atiça minha imaginação.

Quando ouço o barulho da chuva imagino sempre coisas boas. Ou pelo menos líricas. Nada de enchentes, e desgraças. Talvez por já ter passado por uma.
Quando ouço o barulho da chuva tento imaginar como é a vida de cada gota alcançando o seu fim. Pode ser na calçada ou sobre um guarda chuva lilás de bolinhas em cima de um casal apaixonado.
Tenho a impressão que a chuva atiça minha imaginação.

As vezes ponho a mão para fora da janela só para sentir a vida encostar em mim. Quando criança já cheguei a pensar que a chuva eram lágrimas de São Pedro, por isso poderia sentir sua tristeza se agarrasse cada dor com as mãos.
Imagine que bom seria, se pudessemos dividir a dor com alguém apenas segurando suas lágrimas?
Infelizmente ele continua chorando.
Tenho a impressão que a chuva atiça minha imaginação.


A chuva me traz saudade e lembranças de outros dias chuvosos.
O que fez no último dia de chuva?
Lavou tristezas ou regou alegrias?

Atiça a imaginação.

25 de março de 2009

Amor

a.mor

sm (lat amore) (...)

Não há definição em palavras para o amor. Só os que não amam e os tolos acreditam que são capazes de descrever aquilo que não se descreve, que só se sente.

Palavras descrevem as sensações, jamais o sentimento.

E hoje, quero falar de sensações.

O primeiro amor que me vem a mente é o, incomparável, amor de mãe. Infelizmente nem todos tem a chance de sentir esse amor. Por isso quero citar amores que todos podem sentir. Como aquele que sentimos ao passar uma pétala no rosto.

Quero falar do amor ao ver o sol passando entre as folhas de uma árvore mais velha que a história. Do amor que nos incha ao ver um casal de velhos de mãos dadas sentados no banco embaixo dessa árvore exalando eternidade.

Quero falar do amor que mistura-se ao orgulho em uma vitória e do amor que mistura-se a saudade em uma perda.

Quero lembrar do amor que não chegou a existir. Que ficou naqueles momentos passados que viramos para a direita e não para a esquerda.

Quero entender que o amor não deve gerar tristezas, mas despertar o melhor de mim.

Quero sonhar que todos sentem amor.

24 de março de 2009

escolha

es.co.lha

sf (der regressiva de escolher) 1 Ato ou efeito de escolher; seleção, classificação. 2 Aquilo que se escolhe. 3 Discernimento. 4 Grãos de café, de cereais etc., de qualidade inferior, que ficam após a seleção dos melhores. Var: escolhimento.

Fazemos mais escolhas que gostaríamos. Algumas inconscientemente, outras que mesmo depois de terem sido feitas, perpetuam em nossa mente.

Algumas escolhas são feitas em frações de segundo. Como escolher o João e não o Dudu pro time de futebol na 6a série, diminuir a velocidade no semáforo amarelo, dormir mais cinco minutos e deixar de usar camisinha somente aquela vez.

Outras escolhas demoram alguns minutos. Choramingar mais pela boneca, blusa azul ou a amarela, comprar o livro novo da Nora Roberts e dar chance para o rapaz que não para de olhar para cá.

Existem também as escolhas "fundamentais". Aceitar o emprego X e não o Y, comprar um apartamento pequeno no centro e não uma casa maior afastada e assumir que não se lembra do que falava há três minutos.

Quais escolhas mudaram a sua vida? É excentricidade achar que só suas escolhas fizeram a sua vida assim como é?

João ainda acha que joga melhor futebol e se diverte com o sobrinho aos domingos, filho de mãe adolescente.

Joana conheceu Dudu, um rapaz encantador na livraria, que reparou nela pela blusa azul que combinava com seus olhos.

E você nunca saberá se fez a escolha certa ao escolher essa profissão.

Escrever um blog foi uma escolha. Parar de escrever nele também será, um dia.

Não sei se há sempre uma escolha, uma alternativa. Possuímos valores que podem nos impedir determinadas atitudes. Mas tais julgamentos também foram uma escolha.

As vezes gostaria que nenhuma escolha minha fosse mais difícil do que decidir entre pirulito de maçã verde ou o de tutti frutti. As vezes gostaria de escolher no lugar dos políticos. As vezes gostaria que decidissem por mim. Porém essa decisão é, invariavelmente, outra escolha.

Qual a sua escolha agora?

15 de março de 2009

papel

pa.pel

sm (cat paper, do lat papyru)

1 Substância constituída por elementos fibrosos de origem vegetal, os quais formam uma pasta que se faz secar sob a forma de folhas delgadas, para diversos fins: escrever, imprimir, embrulhar etc. 2 Documento escrito ou impresso. 3 Parte que um ator desempenha no espetáculo. 4 Atribuições, funções: Mantenho-me em meu papel; não vou além dele. 5 Atos que se praticam; maneira de proceder: Não aja dessa maneira, que é um papel muito feio. 8 Tudo o que representa dinheiro sonante: bônus, cheques, letras de câmbio etc. sm pl Nome genérico de passaportes e outros documentos relativos a pessoas. 9 Borrar papel: escrever sem mérito literário. 10 No papel: no projeto.

Qual o nosso papel?

É mostrar-se forte independente de nossas fraquezas, mostrar certeza daquilo que duvida e convicção do que não conhece completamente.

Qual o meu papel?

É gerenciar políticas públicas, ser filha, amiga e transeunte.

É fingir saber que sei o que são políticas públicas, num espaço de repetições de idéias onde nem os que falam e nem os que ouvem sabem da onde nasceram as palavras.

É fingir ser forte no momento de maior fraqueza para fingir que acredita que não sabe que sabem que eu estou fingindo ser forte.

É ouvir problemas alheios e dar conselhos que nem eu mesmo sigo em minha vida e sei que também não irão seguir, já que no fim fazemos nossas próprias escolhas, sendo que, na maior parte das vezes, a errada.

É ser mais uma na multidão. Uma. Mas única.

Qual é o seu papel?

É ler agora aquilo que não sabe da onde veio, de quem não sabe porque escreve.

Se temos um papel é porque, talvez, atuamos.

Mas será atuar o ato de fazer ou o ato de interpretar?

Será o papel para se rasgar ou para se seguir?

Bravo!

12 de março de 2009

Pensamento

pen.sa.men.to
sm (pensar+mento)
1 Ato ou faculdade de pensar. 2 Ato do espírito ou operação da inteligência. 3 Fantasia, imaginação, sonho. 4 Cuidado, preocupação, solicitude. 5 Idéia, lembrança. 6 Modo de pensar; opinião. 7 Alma, espírito. 8 Conceito, moralidade (de um apólogo, epigrama, ou sátira); (...)

Quem pensa?
Todo mundo pensa!

Mas quem realmente pensa?
Posso pensar o que todo mundo pensa ou pensar sozinha.
Como só eu penso.

Porém se o que penso, só eu penso, como saber se isso é pensamento e não loucura?
Fantasia, imaginação, sonho.

Pensamentos não coerentes existem, mas opinião?
Se meu pensamento é minha opinião, contudo meu pensamento é único e exclusivamente meu, como fazer os outros concordarem comigo?
E se concordarem, qual a graça? Aceitariam meu pensamento sem que tenham pensado de fato! Se pensassem, pensariam sem minha ajuda!

Que pensamento estranho.

10 de março de 2009

Silêncio

si.lên.cio
sm (lat silentiu)
1 Ausência completa de ruídos; calada. 2 Estado de quem se cala ou se abstém de falar; recusa de falar. 3 Abstenção voluntária de falar, de pronunciar qualquer palavra ou som, de escrever, de manifestar os seus pensamento. 4 Discrição. 5 Descanso; estado calmo; estado de paz, de inação. 6 Mistério, segredo. (...)
Passar em silêncio: omitir.
Reduzir ao silêncio: obrigar a calar por meio de argumentos convincentes.


Estou em silêncio.
Não sei o motivo, ou simplesmente não o procuro. Omito de mim mesma o que pode ser perigoso dizer em voz alta. Mesmo que ninguém possa me ouvir.

Ouço o silêncio.
Isso não parece possível, gramaticalmente falando. Já que o silêncio é justamente a ausência de ruídos. Entretanto o silêncio possui um peso. Tal que se ouve.

Vivo no silêncio.
Não vejo porque sairia dessa condição.

Mentira.
Há mil argumentos. Porém nenhum é tão forte quanto aquele que me impede de mudar.
Qual é esse? Não sei. Sendo assim não há como combatê-lo.

Silêncio.
silêncio pode ser visto também como sinônimo de falta de coragem.
(Sim, utilizo um eufemismo para covardia. Não gosto de me ver como covarde, prefiro acreditar que me falta uma dose de coragem)

Essa falta de coragem provém de anos de prática na absoluta ausência de ruído.

O silêncio é um consolo e um conforto.
É a certeza que enquanto ele existe não há porque temer mudanças.

No silêncio podemos fingir que não reparamos, que não sentimos falta. No silêncio podemos fingir qualquer coisa, ser qualquer coisa. No silêncio todas as desculpas são válidas.



Silêncio.

Até o primeiro grito.

24 de fevereiro de 2009

uma gota em meio a tempestade

mediano

do Lat. medianu

adj.,
que está no meio;
que está colocado entre os dois extremos;
meão;

regular, sofrível;
medíocre;
que nem é bom nem mau.


Pessoa mediana.

Não diria que sou um grão de areia, já que para mim todos os grãos de areia são iguais.
Não sou igual aos outros, sou apenas mediana.
Nunca fui a primeira a ser chamada para um time na educação física, como também nunca fui a última.
Sou chorona, mas não muito
gorda, mas nem tanto
simpática, mas sem ser um mar de simpatia

Então entra a questão: é ruim ser mediano?
a maior parte das pessoas são. Acredito que muitas se incomodem com isso e que a maior parte nem tenha parado para pensar sobre. Não sei a resposta. Hoje, particularmentem não me sinto com isso.
Mas sei que sozinha nada seria. Nem mesmo mediana. Há, então, situações piores que a mediocridade.
Sem as demais gotas não existe tempestade. Porém sem uma gota ela existe. Sou importante com o todo, se há o todo. Sem ele, nada importa.
Todavia quem sentiria falta daquela gota específica?

Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?

20 de fevereiro de 2009

Fruindo o que existe

fruir:
do Lat. * fruere por frui, gozar

v. tr.,
desfrutar;
lograr;
estar na posse de;

v. int.,
gozar.

Fruir.

Fruo sentimentos
normalmente, teoricamente, bons.

Eu fruo o que existe, como ja bem disse Cecília Meireles
Porém como estar certa do que existe?

Eu existo, tu existes, ele existe. Mas o invísivel, que liga o eu ao tu, o tu ao ele e o ele a mim eu já não sei. Se reconheço a possibilidade de não haver ligação alguma, assumo a solidão. E ela não sei suportar. Nada existe além do solido e do singular.
Mas não sei ser singular. Só conheço o plural. Primeira pessoa do plural.

Pluralidade.

Na faculdade aprendi que pluralidade tem haver com várias diferenças num mesmo lugar. Pessoas culturalmente diferentes com mesmos direitos num mesmo país. Etc, etc.

Será que existe pluralidade de sentimentos? Pluralidade de medos? Talvez meu medo é que não exista e eu nada tenha para fruir. Não sei ser sozinha e não sei não fruir.

Mas se há dúvidas o que resta além de devaneios?

Devaneio é o primeiro sintoma da solidão.
Escrever o devaneio é o primeiro sintoma do solitário.