29 de junho de 2009

pobreza

po.bre.za


sf (pobre+eza) 1 Estado ou qualidade de pobre. 2 Estreiteza de posses, de haveres; falta de recursos, escassez. 3 Sociol Situação em que o nível de vida do indivíduo ou da família se acha abaixo do nível médio da comunidade tomada como referência. 4 Indigência, miséria, penúria.


Não entendo a pobreza. Acredito que ninguém entenda, inclusive o pobre. Principalmente porque não é pobre só aquele que não tem dinheiro.

A pobreza é invisível. E pobre é, também, aquele que não a vê. Passa pela rua e não vê ninguém pedindo ajuda. Ou até vê, mas abaixa a cabeça e em poucos segundos esquece do que viu.

O pobre entende mais de dinheiro que o economista, pois é aquele que menos tem que sabe fazê-lo durar mais. Pobre é, também, aquele que não entende o valor do que tem.



Hoje vi uma senhora vendendo chocolate na saída da estação de metrô. Estava de pé, visível. Mas ninguém a via. Eu, não a vi quando saí da estação. Só reparei porque esperava alguém por lá. Ela não chamava as pessoas para comprarem chocolate. Estava só parada, com olhar distante e uma caixa na frente. Quanto aqueles olhos cansados já haviam visto naquela vida. Ela deveria ter pelo menos o triplo da minha idade. E um olhar vazio. E com aquele olhar me senti vazia. Me senti pobre. Pobre de espírito.


Quem então não é pobre, de um jeito ou de outro?

22 de junho de 2009

Insônia

in.sô.nia

sf (lat insomnia) 1 Falta de sono. 2 Dificuldade de dormir; vigília; anipnia. Var: insonolência.

A insônia para mim é um paradoxo. Você se sente terrivelmente cansado, por não dormir. E terrivelmente desperto, para dormir.

É durante minha insônia que tenho meus maiores e, talvez, melhores devaneios. Infelizmente como estou deitada no escuro torcendo para dormir eles morrem antes de virarem palavras e frases concretas. E, claro, se não escrevemos logo nosso devaneio, ele se perde e se funde à pensamentos ainda não pensados.

Talvez se desistisse dessa coisa tola e desnecessária que é dormir já houvesse escritos livros fantásticos. Claro que também teria muito mais olheiras do que tenho agora. Isso é uma questão de escolha.

Como sempre me disseram que devo dormir 8h por dia, insisto na tentativa. Mas a cada noite parece haver uma nova batalha em minha cama.

A insônia não é simplesmente a falta de sono. Afinal sono é o que não me falta. Porém é na insônia que temos nossos maiores medos, anseios e conflitos interiores. Nascem aqueles pensamentos que não podem ser divididos com mais ninguém. Pensamentos tão assustadores que te impedem de dormir.

Sono, decididamente é o que não me falta. O problema é o que sobra.

Sobra imaginação.

16 de junho de 2009

Ser

s. m. 1. Aquilo que é, que existe, ente. 2. O ente humano. 3. Existência, vida. 4. O organismo, a pessoa física e moral. 5. Forma, figura.

Eu creio que sou. Acredito que todos sejam. O problema é o que.

Tem gente que diz que é mais fácil dizer o que não é. Isso, entretanto não define o que se é. Afinal é possível ser tantas coisas que o processo de eliminação é eterno.
Não gosto quando confundem o ser com o ter. Ou o ser com o estar. Você é rico ou simplesmente tem dinheiro? Você é feliz de fato ou só está feliz agora?
Não sei se situações efêmeras podem ser ditas como ser. É o que se é, o que sempre será e foi.
A gente muda. claro. Mas mudamos a partir de algum ponto, do que éramos. O que fomos nunca vai deixar de ser o que foi na época. Então evoluímos ou regredimos, mas nunca deixamos de ser.

Somos
És
Sou

o quê?

O que sou afinal?
Só saber que sou não me faz ser.
Porém sou. E, definitivamente, hoje não sei o quê.

8 de junho de 2009

Lar

lar
sm (lat lare) 1 Lugar na cozinha em que se acende o fogo; lareira; fogão. 2 Superfície do forno onde se põe o pão para cozer. 3 Face inferior do pão, que fica assente sobre a superfície do forno. 4 Torrão natal; pátria. 5 Casa de habitação. 6 Família. sm pl Nome dos deuses familiares e protetores do lar doméstico, entre os romanos e etruscos. L. doméstico: a casa da família.

Lar, ao meu ver, é onde, ao abrir a porta, tiramos nossos sapatos e máscaras.
Dentro do lar podemos ficar a vontade, física e emocionalmente. Não temos que fingir termos o controle da situação ou sermos competentes. Não precisamos ser elegantes ou usar maquiagem. No lar você é respeitado mesmo de pijama de flanela.

No lar está todo o meu mundo. Ou pelo menos a parte que mais importa. Estão minhas pilastras e minhas certezas. Minhas lembranças e minha história.
O lar não é necessariamente o local onde residimos. Pode ser o lugar onde nos encontramos. A casa de um amigo. A casa da .


Hoje estou com a forte sensação de perda de lar. Sei que as lembranças não podem ser arrancadas de mim. Mas sinto a dor de perda.
Perda do cheiro de bolo no forno pela casa. De acordar com risadas escandalosas vindas da cozinha. Do som do cachorro no quintal. De fechar as janelas as 18h para não entrar pernilongos. De voltar a noite e ver a luz da garagem acesa. Da chuva pela janela, molhando o jardim. Do sofá com o braço gasto. Do órgão com as teclas falhas. Dos cristais que nunca encostei. Do tapete que tanto pisei. Sinto a dor da perda.

O lar está dentro de mim. E temo perdê-lo aos poucos. De não lembrar dos quadros das paredes. Do sabor das balas escondidas no armário.
Por mim o manteria sempre lá, guardando minhas lembranças. Zelando minha saudade.

Mas o rio tem o seu fluxo. E o que era meu lar deve se tornar o lar de outro. E lá outro criar sua história. São ciclos que se fecham e ciclos que se abrem.

Espero que cuidem bem do meu velho lar.