6 de maio de 2009

A grande Arte

ar.te
s. f. 1. Preceitos para fazer ou dizer como é devido. 2. Livro de tais preceitos.
3. Fig. Modo; artifício. 4. Habilidade. 5. Manha, astúcia. 6. Técn. Aparelho de pesca. 7. Ofício.

Sem dúvida o dicionário dessa vez me surpreendeu. Não que eu saiba definir a arte, mas decididamente nenhuma dessas definições me ocorreu.
Não sei o que é Amor e política, mas mesmo assim me arrisquei a parecer tola. Por que não mais uma vez?

A arte me domina, mesmo quando tento dominá-la. E me fascina, de modos que antes eu nem sabia existir. A arte desperta sentimentos e sentidos, sendo capaz de me tirar da minha linha reta.
Não consigo imaginar um ser humano indiferente a arte, que não goste de música. Pode não cantar junto, nem ter a vista embaçada por lágrimas, mas o pezinho debaixo da mesa há de encontrar o ritmo. Nem posso dizer que aquele indiferente a arte é um vegetal! Hoje existem tantos estudos mostrando como o crescimento de plantas é diferente dependendo da música que toca no ambiente!

Comecei pela música por ela ser a mais abrangente. Infelizmente não são todos que compartilham comigo o prazer de uma peça ou de um livro. Infelizmente não são todos que tem a oportunidade para tal. Mas confesso me surpreender daqueles que poderiam mas não compartilham.

A arte me envolve de inúmeras maneiras. Está presente a cada gota de suor que me escorre durante a dança.
E, para mim, a dança é a forma mais fascinante de arte. Pois a dança não é uma arte externalizada do artista, como um quadro ou um livro. Obviamente é muito mais fácil de eternizar algo material. Porém ao terminar esses tipos de obra, elas não mais pertencem ao artista. O elo já foi cortado. Estão terminados e sozinhos diante do mundo.
A dança não.
A dança é a arte de cada pedaço do artista. O bailarino é a própria arte. Não são preciso palavras para transmitir o sentimento. A música é um pequeno instrumento. A magia está no movimento. Ali. Real. Não há borracha e nem massa branca para passar por cima caso haja um erro.
É uma arte que nasce,amadurece e perece com o artista. É efêmera, e por isso é ainda mais especial. Não dá para guardar para depois. Tem que ser agora.

Não sei o que Shakespeare sentia ao escrever Hamlet. Ou Van Gogh com seus Girassóis.
Só o que eu sinto ao apreciá-los, de forma egoísta e solitária.
A dança não.
É compartilhada entre bailarino e espectador. Pode não ser o mesmo sentimento, mas é real. É presente. É agora.

A dança como todas as outras artes evolui ao passar dos tempos. Estende o limite para o que antes parecia impossível ou impensável. O limite do corpo não parece ser um obstáculo quando se tem uma mente fértil.

É admirável.
É envolvente.
É a Arte.

2 comentários:

  1. Não sei se concordo quando você diz que a dança não é externa ao artista. Óbvio que ela depende inteiramente dos movimentos do dançarino e se esgota quando acaba a apresentação (em sentido filosófico, excluindo as formas modernas de captação de imagem).

    A questão é que para mim, a arte é de todos. Mais, precisa de todos para se estabelecer como arte. No diálogo entre público e artista é que se constroem os sentidos da obra. Por isso eu achar estranho uma forma de arte que exista de uma forma digamos "imanente".

    Entretanto, como você, senti-me incomodado com a definição do dicionário. Só não me irrita tanto quanto os velhos preceitos clássicos que excluem o popular do campo artístico. Os axiomas do conservadorismo são os maiores inimigos das formas sociais de expressão. A arte é um movimento da população de expor sua visão de mundo e, como tudo, são regidas a partir de uma divisão de classes. De alguma forma, devemos fazer a arte descer do pedestal em que ela foi posta pelas elites e inserí-la nas transformações sociais. É para isso que a arte serve. Emociona, envolve e deve causar incômodo. Onde está esse incômodo no dicionário?

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  2. Tocaste num ponto extremamente interessante. Se reparares, as primeiras artes precisam ser executadas a cada momento em que se necessita de as apreciar. Sendo a música a primeira arte e a dança a segunda, elas não estão sempre prontas para serem admiradas, pois é necessário que alguém sempre toque o instrumento ou faça os passos da dança.

    Mas essa classifcação é besta. O detalhe é que há artes que sempre estarão já prontas para serem apreciadas e outras que sempre vão precisar de serem executadas para que se as apreciem. Assim, a dança, se não for bem executada, deixa de ser arte, e passa a ser apenas um punhado de movimentos aleatórios.

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Devaneie.